Sobre o conceito perfeito das substâncias

G. W. Leibniz
(1677?)

Fonte: A VI iv 1350-1

Uma substância é um Ser que envolve todos os predicados necessários do mesmo sujeito, como o ar. Um adjunto é aquilo que não envolve tudo, como a transparência. Pois o ar envolve a transparência, claro, sutil, elástico, etc., e nada mais relacionado àquilo de que ‘ar’ é necessariamente predicado, que já não esteja contido no conceito de ar. Pode-se postular ou certamente entender o ar puro, ou seja, um Ser sobre o qual nada pode ser predicado além do que a natureza do ar exige; mas a transparência pura não pode ser postulada, ou seja, um Ser no qual possa haver transparência e nada mais. Daí parece seguir-se que apenas as substâncias devem ser chamadas as espécies mais baixas ou individuais – a saber, aquelas cujo conceito é perfeito, ou tal que nesse conceito está contida uma resposta a tudo o que pode ser perguntado sobre a coisa.

Contudo, o conceito de um animal não é tal coisa, pois ainda se pode perguntar: é racional ou irracional, quadrúpede ou bípede, porque alguns animais são racionais e outros são irracionais. A menos que, talvez, devamos acreditar que um animal puro possa ser postulado, ou um no qual nada seja encontrado além do que é precisamente exigido para o conceito de um animal, e, portanto, possamos desejar chamar um animal de substância porque, de qualquer forma, seu conceito é capaz de subsistir por si mesmo. Mas duvido muito que um animal puro seja possível. Pois não apenas será sem pés, mas também sem sensações, porque o conceito de um animal não expressa o que ele deveria sentir.

Portanto, apenas aqueles termos gerais que são homogêneos pertencem às substâncias, e tal é o conceito de Ser puro ou absoluto, isto é, o conceito de Deus.

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