Sobre as formas simples (1676)

(De Formis Simplicibus)
G. W. Leibniz
Abril de 1676

Percepção e situação [situs] são formas simples. Mas, mudança e matéria, isto é, modificações, são o que resulta de todas as outras formas tomadas simultaneamente. Pois há infinitamente várias coisas na matéria e no movimento e esta infinita variedade pode apenas resultar de uma causa infinita, isto é, de várias formas. Disto, é fácil compreender que as formas simples são infinitamente muitas. Mas as modificações que resultam de todas elas, relacionadas a formas individuais, constituem as suas variedades. Parece que percepção e situação estão em toda parte, porém a matéria é diferente em várias coisas e assim várias leis têm origem. Por exemplo, se há uma lei em nosso mundo segundo a qual a mesma quantidade de movimento é sempre conservada, pode haver um outro universo no qual também existam outras leis. Porém, é necessário que o último espaço se diferencie do primeiro; haverá posição de algum tipo, e um grande número, mas não será necessário que haja extensão, profundidade e largura. Nós já compreendemos que há vários tipos de quantidades no tempo, em um ângulo e em outras coisas. Parece que percepção, prazer e felicidade estão em toda parte; pois é a natureza maravilhosa disso que a duplica – de fato, ela multiplica para a infinidade – a variedade das coisas. Porém, parece que a variedade pode acontecer de outros modos que não se encontram ao alcance de nosso espírito. Há a mesma variedade em qualquer tipo de mundo e isso nada mais é que a mesma essência relacionada de vários modos, como se olhássemos a mesma cidade a partir de vários locais; ou se relacionássemos a essência do número 6 ao número 3, seria 3 x 2 ou 3+3, mas se relacionássemos à do número 4, seria 6/4 = 3/2, ou 6 = 4 x 3/2. Então, não é surpreendente que, de um certo modo, coisas diferentes sejam produzidas.

Quando o espírito percebe algo na matéria é incontestável que, enquanto percebe várias coisas, também há nele uma mudança. Quando, alguém ao crescer, torna-se maior do que eu, então, alguma mudança ocorre em mim também, já que uma denominação a meu respeito é alterada. Deste modo, todas as coisas estão, de uma certa maneira, contidas em todas as coisas. Porém, elas estão contidas de modo muito diferente em Deus mais do que nas coisas; e nos gêneros das coisas, isto é, nos mundos, mais do que nos indivíduos. As coisas não são produzidas pela mera combinação de formas em Deus, mas também com um sujeito. O próprio sujeito, ou Deus, junto com Sua onipresença, dá o imensurável e este, combinado com outros sujeitos, faz com que todos os possíveis modos, ou coisas, dele decorram. Os vários resultados de formas, combinados com um sujeito, realiza (causa) aqueles resultados particulares. Não posso explicar como as coisas resultam das formas a não ser por analogia com o modo pelo qual os números resultam das unidades – com essa diferença: que todas as unidades são homogêneas, mas as formas são diferentes.

Notas:
1. Data acrescentada posteriormente.