Sobre a existência (1676)

(De Existentia)
G.W.Leibniz
A Nº87 (dezembro de 1676 ?)

Para a existência, é indispensável que o conjunto de todos os requisitos esteja presente. Um requisito é aquilo sem o que uma coisa não pode existir. O conjunto de todos os requisitos é a causa completa de uma coisa. Não há nada sem uma razão, pois não há nada sem um conjunto de todos os requisitos. A razão para a existência não está nos corpos, como facilmente pode demonstrar-se. Pois mesmo que regridas ao infinito, tu simplesmente multiplicarás os corpos; mas não compreenderás a razão por que deve ser assim e não de outro modo. O conjunto de todos os requisitos de qualquer corpo dado está fora dos corpos. O conjunto de todos os requisitos de um corpo, e o conjunto de todos os requisitos de um outro, está em um e mesmo ser. Esse ser único, qualquer que seja, é a razão última das coisas [ultima ratio rerum]. Pois o que é verdadeiro para os corpos, é verdadeiro para todas as outras coisas, quaisquer que possam ser, as quais não existem necessariamente, ou, cuja razão para a existência não está em si mesmas. Um ser necessário nada mais é que único. Um ser necessário contém em si mesmo os requisitos de todas as coisas. Um ser necessário age sobre si mesmo, ou, ele pensa. Pois pensar nada mais é que se sentir. Um ser necessário age através dos meios mais simples. Porque das infinitas possibilidades, algumas são as mais simples; porém, as mais simples são aquelas que proporcionam o máximo. A razão para isso é que não há razão que determine o mais que resta. Harmonia é exatamente isso: uma certa simplicidade na multiplicidade. Beleza e prazer também consistem nisso. Assim, para as coisas, existir é o mesmo que ser entendidas por Deus como sendo o melhor, isto é, o mais harmônico. Não temos idéia da existência, a não ser que entendamos as coisas como percebidas. Nem pode haver qualquer outra idéia da existência, já que a existência está incluída exclusivamente na essência dos seres necessários. Sem seres capazes de percepções, nada existiria. Sem um primeiro ser capaz de percepções, que é o mesmo que a causa de todas as coisas, nada seria percebido. A harmonia das coisas exige que deva haver nos corpos seres que agem sobre si. Sobre a natureza de um ser que age sobre si mesmo: age pelos meios mais simples, pois nele há harmonia. Uma vez começado, ele é eterno. Nele há idéias daquelas coisas que percebeu ou fez, como há em Deus; a diferença é que em Deus as idéias são de todas as coisas e são simultâneas. A mente nunca esquece nada, já que as idéias na mente são indestrutíveis. O movimento, uma vez dado, é necessariamente conservado. O pensamento, ou a sensação de si, ou a ação sobre si, é necessariamente conservado. Mas, atualmente, não considero como necessariamente conservada a ação de um agente que, atuando sobre si, atua sobre o corpo. O que é conservado surge da harmonia das coisas; isto é, pela vontade de Deus. Milagres são executados com o auxílio de certas mentes. Certas mentes podem estar unidas unicamente com Deus: isto é, aquelas às quais há uma perfeita ação concebida de acordo com a razão e a cujos corpos são permitidos tanto mais poder de movimento que eles não podem ser superados por aqueles que os cercam.