G. W. Leibniz
GP VII, 263 (1678)
Antes de tudo, com o termo “ideia” designamos algo que está em nossa mente. Em consequência, as impressões deixadas no cérebro não são ideias, pois admito como completamente certo que a mente é diferente do cérebro ou da parte mais sutil da substância do cérebro.
Agora, em nossa mente há uma grande multiplicidade, a saber, pensamentos, percepções, afetos, que reconhecemos não serem ideias, embora não possam existir sem ideias. De fato, para nós, a ideia não consiste em um ato de pensamento, mas em uma faculdade, e diz-se que temos uma ideia de alguma coisa, embora não estejamos pensando nela, se podemos pensar nela sempre que surgir a ocasião.
Mas também aqui existe certa dificuldade, pois temos a faculdade remota de pensar em tudo, até naquilo de que talvez não tenhamos ideias, porque temos a faculdade de recebê-las. Portanto, a ideia postula certa faculdade próxima ou facilidade de pensar na coisa.
Mas nem isso é suficiente, pois quem possui um método pode chegar à coisa, se seguir esse método, embora não tenha uma ideia da coisa. Por exemplo, se enumero em ordem as seções do cone, é certo que chegarei ao conhecimento das hipérboles opostas, embora ainda não tenha uma ideia delas. É necessário, portanto, que haja algo em mim que não só conduza à coisa, mas que também a expresse.
Diz-se que expressa uma coisa aquilo em que há relações (habitudines) que correspondem às relações da coisa que vai ser expressa. Mas essas expressões são variadas, por exemplo, as medidas da máquina expressam a própria máquina, a projeção da coisa sobre um plano expressa o sólido, o discurso expressa pensamentos e verdades, os signos (numéricos) expressam números, a equação algébrica expressa círculos ou outras figuras. E o que todas essas expressões têm em comum é que, apenas pela contemplação das relações daquilo que expressam, podemos chegar ao conhecimento de propriedades que correspondem à coisa que será expressa. Daí resulta evidente que não é necessário que aquilo que expressa seja igual à coisa expressada, desde que conserve alguma analogia nas relações.
É evidente que algumas expressões têm seu fundamento na natureza, mas que outras se baseiam, pelo menos parcialmente, em uma convenção (arbitrio), como, por exemplo, as expressões manifestadas por palavras ou caracteres. As que se baseiam na natureza pressupõem já alguma semelhança, como a que existe entre o círculo e a elipse que o representa visualmente, pois qualquer ponto da elipse corresponde a algum ponto do círculo, segundo uma lei determinada. Inclusive, neste caso, o círculo estaria mal representado por outra figura mais parecida. Da mesma forma, todo efeito completo representa a causa plena, pois, por meio do conhecimento desse efeito, sempre posso chegar ao conhecimento de sua causa. Assim, as ações produzidas por alguém representam sua alma, e o próprio mundo representa, de certa forma, Deus. Pode até acontecer que tudo o que provém da mesma causa se expresse mutuamente, como, por exemplo, o gesto e a conversa. Assim, alguns surdos que falam entendem não pelo som, mas pelo movimento da boca.
Portanto, afirmar que a ideia das coisas está em nós não é mais do que sustentar que Deus, autor ao mesmo tempo das coisas e da mente, imprimiu nela aquela faculdade de pensar de tal modo que pode obter, por meio de suas operações, tudo o que corresponde perfeitamente ao que surge das próprias coisas. E assim, embora a ideia de um círculo não seja igual ao círculo a que se refere, podem ser obtidas verdades que a experiência confirmará sem dúvida no verdadeiro círculo.