G. W. Leibniz
Dezembro de 1676
Não é surpreendente que o número de todos os números, todas as possibilidades, todas as relações ou reflexões não são entendidas nitidamente; pois elas são imaginárias e nada há na realidade que lhes corresponda. Por exemplo, suponha que há uma relação entre a e b, e que essa relação seja denominada c; e seja uma nova relação considerada entre a e c e que essa relação denomine-se d, e assim ao infinito. Não parece que alguém possa afirmar que todas essas relações são idéias verdadeiras e reais. Talvez apenas aquelas coisas que sejam puramente inteligíveis possam ser produzidas; isto é, que tenham sido ou que serão produzidas.
Não há dúvida que Deus entende como nós percebemos as coisas; exatamente como alguém que deseja fornecer uma noção de uma cidade a irá representar de vários modos. E esse entendimento de Deus, na medida que Ele entende nosso modo de entendimento, é muito semelhante ao nosso. De fato, nosso entendimento resulta dele, do que podemos afirmar que Deus possui um entendimento que é de um modo semelhante ao nosso. Pois Deus entende as coisas tal como nós, mas com essa diferença: que Ele as entende ao mesmo tempo por infinitamente muitos outros modos, enquanto nós as entendemos de um modo apenas.
Se pudéssemos supor que um corpo existe sem uma mente, então um homem faria tudo do mesmo modo como se não possuísse uma mente e os homens falariam e escreveriam as mesmas coisas, sem saber o que estavam a fazer, exatamente como quando estão representando. Mas a suposição de que um corpo existe sem uma mente é impossível.
Em minha opinião uma substância, ou, um ser completo, é aquele que por si mesmo envolve todas as coisas, ou, que para sua perfeita compreensão nada mais é exigido. Uma forma não é deste tipo, pois a fim de entendermos de onde resultou uma forma de tal tipo necessitamos nos valer do movimento. Cada ser completo pode ser produzido por apenas um modo; o fato de que figuras podem ser produzidas de vários modos é uma indicação suficiente de que elas não são seres completos.
Do princípio de que o efeito completo deve ser equivalente à causa plena demonstra-se que todas as coisas são plenas. Daí está evidente que há um infinito atual; pois o ímpeto é conservado com o auxílio da matéria circundante, que continua seu movimento quando o corpo está inativo e então carrega o corpo consigo. Mas isso não acontecerá corretamente a menos que aconteça por meio da “matéria segunda” que é subdividida sem fim. De fato, talvez o movimento não possa acontecer de qualquer outro modo (assumindo que todos os corpos se tocam).