(Meditatio De Principio Individui)
G. W. Leibniz
1º de abril de 1676
Nós dizemos que o efeito envolve [involvere] sua causa; de maneira que todo aquele que entende perfeitamente o efeito irá, também, alcançar o conhecimento da causa. Pois é necessário que haja alguma conexão entre uma perfeita [integram] causa e o efeito. Mas, por outro lado, há esse obstáculo: que diferentes causas podem produzir um efeito que é perfeitamente o mesmo. Por exemplo, se dois paralelogramos ou dois triângulos são colocados juntos de maneira apropriada (como está evidenciado a seguir), o mesmo quadrado será sempre produzido, como está claro. Ninguém, nem mesmo o ser mais sábio, poderá distinguir entre os quadrados assim produzidos.
Então, dado um quadrado deste tipo, não estará no poder de ninguém – nem mesmo do ser mais sábio – descobrir sua causa, já que o problema é indeterminado. Logo, o efeito parece não envolver sua causa.
Pelo que, de outra parte, se estivermos certos que o efeito, de fato, envolve sua causa, então, é necessário que o método de produção dos quadrados deva sempre ser discernível, quando tenham sido produzidos. De fato, é impossível que dois quadrados desse tipo sejam perfeitamente semelhantes [similia]; pois, consistirão de matéria; mas essa matéria terá uma mente [mens] e, esta, conterá [retinebit] o efeito de seu estado precedente. E, de fato, a menos que admitamos que é impossível que haja duas coisas que sejam perfeitamente semelhantes, seguir-se-á que o princípio da individuação está fora da coisa, em sua causa. Também, que o efeito não envolve a causa de acordo com sua razão específica, mas conforme sua razão individual. E, portanto, que uma coisa não difere de uma outra em si mesma. Mas se admitirmos que duas coisas sempre diferentes também diferem em si mesmas em alguns aspectos; segue-se que está presente na matéria algo que retém o efeito daquele que o precede, isto é, uma mente. E, disto, também está provado que o efeito envolve a causa. Pois, disto é verdadeiro que foi produzido por uma tal causa; logo, até agora no presente, há nele uma qualidade de tal modo que acarreta isso, e essa qualidade, mesmo que seja relativa, tem em torno dela algo que é real. É evidente que grandes conseqüências seguem de tão poucas premissas.
Esse argumento é muito refinado e prova que a matéria não é homogênea e que não podemos fielmente pensar em algo pelo que difere, exceto a mente. Já que nossa mais profunda mente está presente tanto em si mesma como na matéria, segue-se que nada pode ser introduzido nelas que não possa ser entendido por nós de alguma maneira. Esse é um princípio de grande importância.