História e conexão entre as línguas. Ensaios de Teodiceia (§§ 136-143) 1
Tradução e notas: Juliana Cecci Silva e William de Siqueira Piauí 2
136. Contudo, perseguindo seus raciocínios, [o Sr. Bayle] chegou mesmo a quase querer fazer ressuscitar aqueles dos seguidores de Mani,3 persa herético do século III depois de Cristo, ou de um certo Paulo, o líder dos maniqueístas na Armênia no século VII, que lhes fez dar o nome de paulicianos. Todos esses heréticos renovaram o que um antigo filósofo da alta Ásia, conhecido sob o nome de Zoroastro,4 tinha ensinado sobre o que se chama de os dois princípios inteligentes de todas as coisas, um bom, o outro mau; dogma que talvez tenha surgido dos indianos, onde há ainda uma porção de pessoas ligadas a este erro, muito apropriado para surpreender a ignorância e a superstição humana, já que uma porção de povos bárbaros, mesmo na América, chegaram a ele sem ter tido necessidade de filósofo. Os eslavos, segundo Helmond,5 tinham seu Zernebog, isto é, deus negro. Os gregos e os romanos, por mais sábios que parecessem, tinham um Vejovis ou Anti-Júpiter, chamado de maneira diversa de Plutão, e uma porção de outras divindades malfeitoras. A deusa Nêmesis6 se deleitava em humilhar aqueles que estavam felizes demais; e Heródoto insinua em algumas passagens que ele acreditava que toda divindade é invejosa, o que, entretanto, não está de acordo com a doutrina dos dois princípios.
137. Plutarco, no seu tratado Sobre Isis e sobre Osíris, não conhece autor mais antigo que os tenha ensinado do que Zoroastro, o mágico, como ele o denomina. Trogus,7 ou Justino, o fez rei dos bactrianos, vencidos por Ninus ou Semiramis; lhe atribuindo o conhecimento da Astronomia e a invenção da magia; mas esta magia era aparentemente a religião dos adoradores do fogo, e parece que ele considerava a luz ou o calor como o bom princípio; mas acrescentava o mal, isto é, a opacidade, as trevas, o frio. Plínio8 relata o testemunho de um certo Hermippe, intérprete dos livros de Zoroastro, que o fazia discípulo na mágica arte de um tal Azonace, contanto que este nome não seja a degeneração do de Oromase, do qual falaremos daqui a pouco, e que Platão no Alcibiades o fez pai de Zoroastro. Os orientais modernos chamam de Zerdust aquele que os gregos chamavam de Zoroastro. Fizeram-no corresponder a Mercúrio, porque entre alguns povos a quarta-feira (mercredi) deriva dele o seu nome. É difícil elucidar sua história e o tempo em que viveu. Suidas9 o faz anterior em quinhentos anos à Tomada de Troia; e os antigos, segundo Plínio e segundo Plutarco, também dizem isso muitas vezes. Mas Xantos, o lídio, no prefácio de Diógenes Laércio, só o faz anterior em seiscentos anos à expedição de Xerxes. Platão declara na mesma passagem, como o Sr. Bayle observa, que a magia de Zoroastro não era outra coisa senão o estudo da religião. O Sr. Hyde,10 no seu livro sobre a religião dos antigos persas, se esforça para justificá-la e para purificá-la, não apenas do crime de impiedade, mas também do de idolatria. O culto do fogo era aceito entre os persas e entre caldeus; acredita-se que Abrão o abandonou quando saiu de Ur, na Caldéia. Mitra11 era o Sol, e ele era também o deus dos persas, e no relato de Ovídio os cavalos eram oferecidos em seu sacrifício:
Placat equo Persis radiis Hyperiona cinctum,
Ne detur celeri victima tarda Deo.12
Mas o Sr. Hyde crê que eles se serviam do Sol e do fogo no seu culto apenas como símbolos da divindade. Talvez seja preciso distinguir, como em um outro lugar, entre os sábios e o povo. Existem nas admiráveis ruínas de Persépolis ou de Tschelminaar – que quer dizer quarenta colônias – representações de suas cerimônias em escultura. Um embaixador da Holanda fez com que fossem desenhadas com uma grande despesa por um pintor que tinha empregado nisso um tempo considerável; mas não sei por qual acidente estes desenhos caíram nas mãos do Sr. Chardin,13 conhecido por suas viagens, segundo o que ele próprio relatou; seria uma pena se eles se perdessem. Estas ruínas estão entre os mais antigos e mais belos monumentos da Terra, e admiro a pouca curiosidade que um século tão curioso quanto o nosso tem por elas.
138. Os antigos gregos e os orientais modernos concordam em dizer que Zoroastro chamava o deus bom de Oromazes, ou melhor, Oromasdes, e o deus mau de Arimanius. Quando eu observei que grandes príncipes da alta Ásia tiveram o nome de Hormisdas, e que Irmin ou Hermin foi o nome de um deus ou antigo herói dos Celto-Citas, isto é, dos germanos, veio-me em pensamento que aquele Arimanius ou Irmin poderia ter sido um grande conquistador muito antigo vindo do Ocidente; como Gengis Khan e Tamerlan, vindos do Oriente, o foram a partir deste momento. Ariman teria, portanto, vindo do Ocidente boreal, isto é, da Germânia e da Sarmácia, em favor dos Alanos e Massagetas invadir subitamente os estados de um [certo] Hormisdas, grande rei na alta Ásia, como outros Citas o fizeram desde o tempo de Cyaxare, rei dos Médas, no relato de Heródoto.14 Nada mais natural que o monarca, governando povos civilizados e trabalhando para defendê-los dos bárbaros, na posteridade teria assumido, entre os mesmos povos, o lugar do deus bom; mas o líder destes destruidores terá se tornado o símbolo do princípio mau. A partir desta mitologia parece até que estes dois príncipes lutaram por muito tempo, mas que nenhum dos dois foi o vencedor. Assim, eles se mantiveram, os dois, do mesmo modo como os dois princípios partilharam o império do mundo, segundo a hipótese atribuída a Zoroastro.
139. Resta provar que um antigo deus ou herói dos germanos foi chamado de Herman, Ariman ou Irmin. Tácito15 relata que os três povos que compunham a Germânia, os ingevões, os istevões e os hermiones ou hermiões, foram chamados deste modo pelos três filhos de Mannus. Seja isso verdadeiro ou não, ele sempre quis indicar que existiu um herói chamado Hermin, do qual se lhe tinha dito que os hermiones extraiam seu nome. Hermiones, hermenner, hermunduri são a mesma coisa, e significam soldados. Até o medievo os Arimanni16 eram viri militares, e existe o feudum Arimandiæ no direito lombardo.
140. Eu mostrei em outra passagem que aparentemente o nome de uma parte da Germânia foi dado ao todo, e que [a partir] destes herminones ou hermunduri todos os povos teutônicos foram chamados hermanni ou germani; pois a diferença destas duas palavras está apenas na força da aspiração; como difere a inicial nos germani dos latinos e nos hermanos dos espanhóis, ou como no gammarus dos latinos e no hummer (que significa caranguejo de mar) do baixo-alemão. E é muito comum que uma parte de uma nação dê o nome ao todo, como todos os germanos foram chamados de alemães pelos franceses e, todavia, este nome só pertence aos souabes e aos suíços, conforme o antigo estilo. E ainda que Tácito não tenha conhecido bem a origem do nome dos germanos, ele disse alguma coisa de favorável à minha opinião, quando assinala que este era um nome que provocava terror; recebido ou dado ob metum. É que ele significa um guerreiro: Heer, Hari, significa exército, de onde vem hariban ou clamor de haro, isto é, uma ordem comum para se dirigir ao exército, que se degenerou em arrière-ban. Desta forma, Hariman ou Ariman, German, Guerreman é um soldado. Pois como Hari, Heer é exército, desta forma Wehr significa armas, wehren combater, fazer a guerra; a palavra guerre, guerra, vindo sem dúvida da mesma fonte. Eu já falei do feudum Arimandiæ, e não apenas Hermiones ou Germanos queriam dizer outra coisa, mais também este antigo Herman, suposto filho de Mannus, aparentemente teve este nome como se tivessem querido nomeá-lo guerreiro por excelência.
141. Ora, não é apenas a passagem de Tácito que nos indica este deus ou herói; não podemos duvidar que tenha existido aí um destes nomes entre estes povos, já que Carlos Magno descobriu e destruiu, próximo do Weser, a colônia chamada Irmin-Sul, fundada em honra a este deus. E isso, ligado à passagem de Tácito, nos faz julgar que este culto não se relacionava com o célebre Arminius,17 inimigo dos romanos, mas com um herói maior e mais antigo. Arminius levava o mesmo nome, como fazem ainda hoje aqueles que levam o de Herman. Arminius não foi muito grande, nem muito feliz, nem muito conhecido por toda a Germânia para obter a honra de um culto público, mesmo dos povos distantes, como dos saxões, que chegaram muito tempo depois dele na terra dos queruscos. E nosso Arminius, considerado o deus mau pelos asiáticos, é um acréscimo de confirmação à minha opinião. Pois nestes assuntos ambas conjecturas se confirmam sem associação lógica, quando os seus fundamentos tendem a um mesmo objetivo.
142. Não é inconcebível que o Hermes (isto é, Mercúrio) dos gregos seja o mesmo Hermim ou Ariman. Ele pode ter sido inventor ou promotor das artes, e de uma vida um pouco mais civilizada entre aqueles de sua nação, e nas regiões onde ele era o mestre; enquanto era considerado autor da desordem entre os seus inimigos. Quem sabe se ele não chegou até o Egito, como os citas que perseguiram Sesostres e chegaram perto dali? Theut, Menes e Hermes foram conhecidos e honrados no Egito. Eles poderiam ser Tuiscão, seu filho Mannus e Herman, filho de Mannus, seguindo a genealogia de Tácito. Menes passa por ser o mais antigo rei dos egípcios, Theut era um nome de Mercúrio entre eles. Em todo caso Theut ou Tuiscão, do qual Tácito faz descender os germanos, e dos quais os teutões, Tuitsche (isto é, germanos) ainda hoje têm o nome, ocorreu o mesmo com este Teutates18 que Lucano faz os gauleses adorarem, e que César tomou pro Dite Patre, por Plutão, por causa da semelhança de seu nome latino com o de Teut ou Thiet, Titã, Theodon, que antigamente significou homens, povo, e ainda um homem excelente (como a palavra barão), enfim, um príncipe. E há autoridades para todos estes significados; mas não é preciso parar por aqui. O Sr. Otto Sperling,19 conhecido por muitos escritos sábios, mas que ainda têm muitos outros prontos para serem publicados, escreveu uma dissertação específica sobre este Teutates, deus dos celtas; e algumas observações que lhe comuniquei a este respeito foram incluídas nas Notícias Literárias do mar Báltico, assim como sua resposta. Ele compreende de forma um pouco diversa da minha esta passagem de Lucano:
Teutates pollensque feris altaribus Hesus,
Et Taramis Scythicæ non mitior ara Dianæ.20
Aparentemente, Hesus era o deus da guerra, o qual era chamado Ares pelos gregos e Erich pelos antigos germanos, do qual resta ainda Erich-tag, terça-feira (mardi). As letras R e S, que são de um mesmo órgão, substituem-se facilmente, por exemplo, Moor e Moos, Geren e Gescht, Er war e Er was, Fer, Hierro, Eiron, Eisen. Para os antigos romanos, Item Papisius, Valesius, Fusius, no lugar de Papirius, Valerius, Furius, segundo os antigos romanos. Quanto ao Taramis, ou talvez Taranis, sabe-se que Taran era o Trovão (Tonerre), ou o deus do Trovão, entre os antigos celtas, chamado de Thor pelos germanos setentrionais, do qual os ingleses conservaram Thursday, quinta-feira (jeudi), diem Jovis. E a passagem de Lucano mostra que o altar de Taran, deus dos celtas, não era menos cruel que o da Diana Taurica, Taranis aram non mitiorem ara Dianæ Scythicæ fuisse.
143. Não é impossível também que tenha existido um tempo em que príncipes ocidentais ou celtas tivessem se tornado senhores da Grécia, do Egito e de uma boa parte da Ásia, e que seu culto tenha continuado nestes países. Quando se considerar a rapidez com que os hunos, os sarracenos e os tártaros conquistaram uma grande parte do nosso continente, se ficará menos espantado; e este grande número de palavras da língua alemã e da língua grega, que se harmonizam tão bem entre elas, confirma isso. Calímaco,21 em um hino à honra de Apolo, parece insinuar que os celtas que atacaram o templo Délfico, sob seu Brennus, ou líder, vieram depois dos antigos titãs e gigantes que fizeram a guerra contra Júpiter e contra os outros deuses, isto é, contra os príncipes da Ásia e da Grécia. É possível que o próprio Júpiter seja descendente dos Titãs ou Theodones, quer dizer, dos príncipes celto-citas anteriores, e o que o falecido Sr. Abade de La Charmoye recolheu nas suas Origens célticas ajusta-se a isso, embora exista, a propósito, opiniões nesta obra deste sábio autor que não me parecem verossímeis, particularmente quando ele exclui os germanos do número dos celtas, não se lembrando bem das autoridades dos antigos, mas desconhecendo bastante a relação da antiga língua gaulesa com a língua germânica. Acontece que os supostos gigantes, que queriam escalar o céu, eram novos celtas que seguiam a pista dos seus antigos ancestrais; e Júpiter, mesmo que parente deles, por assim dizer, foi obrigado a resistir a eles, como os visigodos estabelecidos na Gália se opunham, com os romanos, a outros povos da Germânia e da Cítia que chegavam depois deles sob o comando de Átila, então mestre das nações cítica, sarmática e germânica desde as fronteiras da Pérsia até o Reno. Mas o prazer que sentimos quando acreditamos encontrar nas mitologias dos deuses algum traço da antiga história dos tempos fabulosos, talvez tenha me levado para longe demais, e eu não sei se eu teria encontrado melhor do que Goropius Becanus, do que Schrieckius, do que o Sr. Rudbeck, e do que o abade Sr. de La Charmoye.22
144. Retornemos a Zoroastro,23 que nos levou a Oromasdes e a Arimanius, autores do bem e do mal, e suponhamos que [o Sr. Bayle] os tenha considerado como dois princípios eternos, opostos um ao outro, embora possamos duvidar disso. […]
Notas:
1. Apresentamos a tradução dos §§ 136-143 dos Ensaios de Teodiceia: sobre a bondade de Deus, a liberdade do homem e a origem do mal do filósofo alemão G. W. Leibniz (1646-1716). A tradução proposta aqui foi feita a partir do texto que tem introdução e cronologia escritas por Jacques Bruschwig (Ed. Garnier-Flammarion, Paris, 1969, pp. 191-6) e será publicada na íntegra pela Editora Estação Liberdade no ano de 2013. A importância dessa parte da Teodiceia, e justificativa para tal separação, se deve, sobretudo, à apresentação de evidências para a defesa da hipótese segundo a qual as origens das nações podem ser compreendidas a partir do parentesco entre as línguas. Assim, boa parte do que será dito a partir do § 138 havia sido considerado no livro III dos Novos ensaios sobre o entendimento humano, especialmente capítulos I-III, mas também é reorganizado em seu Breve plano das reflexões sobre as origens dos povos traçado principalmente a partir das indicações [contidas] nas línguas, também de 1710 (obra que também traduzimos e foi publicada na Kairos – revista de Filosofia e Ciência, nº 4, 2012, pp. 119-149) e Sobre a origem dos francos (De origine francorum) de 1715. Trata-se de uma série de considerações a partir do significado de determinados nomes que encontram respaldo em muitas autoridades (§ 142) em História, Filologia e Etimologia; a esse respeito, Leibniz trocou uma vasta correspondência com muitas das autoridades que viviam em sua época; nelas estava em jogo principalmente sua hipótese segundo a qual a partir da história das línguas e das conexões entre elas podemos ter mais sucesso em reconstituir a historia dos povos e conexões entre eles bem como a hipótese de que os germanos tinham origem nos povos celto-citas, sendo um dos povos mais antigos da Europa; hipótese defendida também por Goropius Becanus e Adrianus Rodornius Scrieckius mas que refutava, dentre muitos outros, as de Matthaeus Pretorius (1635-1704), Louis Thomassin de Eynac (1619-1695), Samuel Borchardt (1599-1677), Paul-Yves Pezron (abade da Charmoye), Ericus Johanis Schroderus (c. 1608-1639), Olaus Johannis Rudbeck e Johan Gabriel Sparvenfeld (1655-1727), hipótese que compreendia a questão da origem adâmica das línguas e a predominância do império germânico na Europa (cf. §143, nota 22). Cf. também as traduções das cartas que publicamos no site leibnizbrasil.pro.br, na revista MUTUM da Universidade de Brasília e a carta de Leibniz a Sparvenfeld de 7 de abril de 1699, que estamos prestes a publicar. Todo esse trabalho de Leibniz também é suficiente para mostrar que não se tratava mais da época do Crátilo de Platão e que a discussão sobre se as línguas eram naturais (opinião do personagem Crátilo) ou ex instituto (por convenção, opinião do personagem Hermógenes) tinha que passar pelas novas descobertas da etimologia e filologia, isso é, da história das línguas, o que fazia soar meio ridículas as observações tão rápidas, e sem qualquer menção a esse imenso trabalho (realizado até a época de Leibniz), feitas pelo filósofo inglês John Locke (1632-1704), principalmente no início do livro III de seu Ensaio sobre o entendimento humano.
2. Juliana Cecci Silva é mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos de Tradução na Universidade de Brasília, Postrad – UnB, e fez seu bacharelado em Letras-Francês pela Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) e-mail: julianacecci@yahoo.com.br. William de Siqueira Piauí é doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo, FFLCH – USP, e, atualmente, é professor da Universidade Federal de Sergipe, UFS, e-mail: piauiusp@gmail.com.
3. Termo cunhado para nomear a doutrina do sacerdote Mani, fundador do maniqueísmo, que viveu na Pérsia entre 240 e 274 d.C.. Trata-se de uma mistura de elementos gnósticos, cristãos e orientais, pensados a partir do dualismo da religião de Zoroastro; ela defende que o mundo é dominado pela oposição de dois princípios, o do Bem (associado à alma luminosa) e o do Mal (associado à alma corpórea). Paulo de Samosate (ou Samosata, morto após 272), heresiarca que negava a trindade e a divindade de Cristo; seus seguidores, os paulicianos, floreceram até o século VII.
4. Antiga religião persa fundada no século VII a.C. por Zoroastro (ou Zaratustra), caracterizada pelo dualismo ético, cósmico e teogônico que implica a luta primordial entre dois deuses, representantes do bem e do mal, presentes e atuantes em todos os elementos e esferas do Universo, incluindo o âmbito da subjetividade e das relações humanas. O zoroastrismo influenciou em diversos aspectos doutrinários a tradição judaico-cristã.
5. Helmond (ou Helmold), cronista do século XII; ele fala do deus negro ou deus do mal Zcerneboch no cap. I, 52, de sua crônica.
6. A deusa Nêmesis, filha da Noite e do Oceano (ou de Júpiter e da Necessidade), foi amada por Zeus-cisne, antes de Leda, e se tornou mãe de Helena de Ramnunte; por esse motivo, vela escrupulosamente pela lei e é considerada a deusa da vingança.
7. Trogo Pompeo, historiador da época de Augusto, autor de uma História universal da qual não resta senão um resumo feito por Justino Juniano, historiador do século II.
8. Plínio, o Antigo, História natural, XXX, 2. Hermippe, biógrafo alexandrino do século III a.C., que se interessou pelas possíveis relações entre a filosofia grega e a sabedoria oriental. Platão, Alcibíades I, 122 a.
9. Por muito tempo se designou sob o nome de um suposto Suidas uma espécie de dicionário grego intitulado A souda, que foi composto no fim do século X d.C. Xantos da Lídia, historiador ioniano do século V a.C., que escreveu quatro livros intitulados Lydiaca.
10. Thomas Hyde (1636-1703), orientalista inglês cuja maior obra é uma Historia religionis veterum Persarum et Parthorum et Medorum (Oxford 1700).
11. Mitraísmo: culto masculino de adoração à divindade Mitra, o deus do Sol, da guerra e da verdade, na Pérsia pré-zoroástrica; culto que floresceu especialmente no Império Romano tardio (século II e III d.C.), antes da adoção do cristianismo.
12. “Com um cavalo o persa apazigua ao radiante Hipérion; não se deve dar (no sentido de sacrificar) uma vítima lenta a um Deus veloz”. (Ovídio, Fasti, I, vv. 385-386).
13. Jean Chardin (1643-1713), viajante célebre cujo texto Journal de Voyage en Perse et aux Indies orientales, foi publicado em 1686.
14. Cyaxare ou Cissare, cf. Heródoto, História, I, 103. Cf. nota 1.
15. Tácito, Germania, cap. 2.
16. Os arimanni constituiam um tipo de milícia de homens livres; protegidos pelo monarca, ficavam estabelecidos em terras fiscais para compensar os serviços que prestavam. Seu estatuto era uma das questões bastante discutidas pelos historiógrafos da alta Idade Média italiana.
17. O Comandante germânico, vencedor das legiões de Varus no ano 9 d.C.; foi vencido pelo general romano Germanus, membro da família de Augusto.
18. Lucano, A Farsália, I, 444 (cf. n. 276). César, Guerra dos Gauleses, VI, 18, 1.
19. Otto Sperling (1634-1715), numismata e historiador da antiguidade escandinava; sua dissertação, intitulada De origine veterum Gallorum a Dite, h. e Germanis et Septentrionalibus, foi publicada nos Nova literaria Maris Balthici et Septentrionis de junho de 1699. A publicação de agosto continha as observações de Leibniz e a de dezembro a resposta de Sperling.
20. “Teutates (Mercúrio) e o temível Hesus (ou Eso, Marte) de terríveis altares, bem como Taramis (ou Taranis, Júpiter) cujo altar não é menos cruel que o altar da cítica Diana”. Lucano, A Farsália, I, vv. 444-445.
21. Calímaco (c. 305-c. 240), célebre poeta, crítico literário e bibliógrafo alexandrino; no seu Hino IV (a Délos), v. 171 seg., ele faz alusão à invasão da Grécia pelos gauleses e à queda deles diante de Delfos (277-276 a.C.), em 390 a.C., um exército gaulês sob o comando do líder Brennus, ou Brenno – nome dado pelos romanos e que significa chefe – chegou a Roma e tomou a cidade.
22. Jean Becan van Gorp, conhecido como Goropius Becanus (1518-1572), médico e literato flamengo; suas pesquisas sobre a antiguidade das línguas germânicas se encontram em um livro intitulado Hermathena (1580); suas etimologias “estranhas e frequentemente ridículas” tinham dado nascimento ao verbo “goropisar” (cf. Leibniz, Novos ensaios, III, cap. 11, §1). Adrian Schrieck (1560-1621), historiador e filólogo flamengo, em sua obra Du commencement des premiers peuples de l’Europe et en particulier de l’origene des Pays-Bas (Ypres 1614), sustentava que o flamengo é a fonte de todas as outras línguas. Olaus (ou Olof) Rudbeck (1630-1702), médico e erudito sueco, em sua obra Atlântica, defendia que a Suécia era a Atlântida de Platão e o berço da civilação (Upsal 1675). Paul-Yves Pezron (1639-1706), eleito abade da Charmoye em 1697, filólogo e cronologista, autor de um livro intitulado Antiquité de la nation et de la langue des Celtes, autrement appelés Gaulois (Paris 1703).
23. Retomada do parágrafo 136.