Correspondência de Leibniz com o abade Foucher
Paris, 26 Abril de 1679
Meu muito prezado senhor.
O Sr. Lantin e eu aguardamos uma cópia da carta que escrevestes à princesa Isabel. Prometestes-me isso, e eu comuniquei ao Sr. Lantin, que já se considera feliz por isso. Ele aguarda essa carta com impaciência e vos suplica que conserveis vossa amizade e estima por ele. Asseguro-vos que tanto ele quanto eu temos tal ideia de vosso mérito que estamos até encantados. Já que temos a desgraça de não vos ter por perto, fazei ao menos que vossas produções cheguem às nossas mãos. Confiado em vossa palavra, espero a carta que me prometestes; e creio que o Sr. Gente vos terá dito isso em suas cartas, conforme vos supliquei.
Dou-vos graças, amigo meu, por me terdes proporcionado a amizade dessa pessoa, que é sumamente digna e solícita, o que me convence cada vez mais de que aqueles a quem estimais merecem, com certeza, ser estimados. Creio que, se tivésseis visto o terceiro volume da Recherche, teríeis reconhecido que o Rev. Pe. Malebranche fala nele de maneira algo diferente da que adota nos outros volumes: assume um certo ar acadêmico, principalmente quando diz que não temos ideia da natureza de nossa alma.
Vai ser impressa minha resposta a Dom Robert. Quanto ao conselho que me dais de traduzir Platão, poderá ser feito com o tempo; mas colocar minhas proposições em forma de teoremas de geometria não o farei por agora, e tenho a mesma razão para isso que teve e deu Descartes ao Pe. Mersenne quando este lhe exigiu o mesmo. Já adivinhareis qual seja essa razão, e creio tê-la indicado quando tivestes a atenção de me fazer essa mesma proposta.
Entregaram-me um folheto de um tal Leroger de Auranche, no qual ele crê provar o movimento contínuo, dedicado ao Rei, mas nada mais falso do que o que afirma ao assegurar que experimentou esse movimento por meio de máquinas cujo desenho apresenta na obra. Esse homem não conhece sequer o princípio mais insignificante referente ao equilíbrio dos líquidos.
Saiu a oposição à cátedra de Ramus no Colégio Real, mas os que a solicitam estão muito distantes de possuir a ciência que tinha o falecido Sr. de Roberval. A senhora de Longueville, protetora de Port-Royal, acaba de falecer.
Sou vosso, etc.
Foucher
Leia também Carta a Simon Foucher (1687)