Carta a l’Hôpital (1695)

G.W.Leibniz
12 de julho de 1695
fonte: GM II, 294

[…] Alegrar-me-ia saber sua opinião sobre reflexões recentemente publicadas em sua revista nos meses de junho e julho. Deve-se solicitar uma opinião aos matemáticos e não aos meros filósofos. As idéias metafísicas não podem deixar de parecer estranhas a mentes que não estão acostumadas a pensar. Espero que eles não se irritem com isto.

Concordo com o reverendo Pe. Malebranche ao pensar que é apenas Deus quem age imediatamente sobre as substâncias por meio de uma influência real. Mas, deixando de lado a dependência que temos em relação a Deus – que significa que somos conservados por uma contínua criação – deixando de lado, eu dizia, e falando apenas sobre as causas secundárias ou o curso ordinário da natureza, sustento que sem necessitarmos de qualquer nova ação divina, podemos nos satisfazer, a fim de explicarmos as coisas, com aquilo que Deus lhes forneceu desde o início. Então, toda substância antecipadamente já expressa e produz por si própria, interna e ordenadamente, tudo aquilo que a ela irá acontecer. Deus decide mantê-la apenas em conformidade com a natureza básica da coisa, tendo como conseqüência o desvelamento do futuro.

O senhor Arnauld, à primeira vista, pensava que isso seria um ataque à graça e que favoreceria a tese dos Pelagianos. Porém, tendo recebido minhas réplicas, absolveu-me de tal culpa. Penso poder afirmar, contudo, que nada pode ser mais favorável à nossa liberdade que a opinião que acabo de formular. A chave da minha doutrina sobre este assunto consiste na consideração daquilo que é genuinamente uma unidade real, uma mônada […].