G. W. Leibniz (04.dez.1696)
Fonte: G. VII, 451-52
[…] Meu sistema, do qual estás ávido por notícias, não constitui um corpo filosófico completo e certamente eu não pretendo explicar tudo quanto outros já reivindicaram esclarecer. Pequenos passos são a base para uma jornada segura. Parto de princípios e espero ser capaz de responder à maioria das dúvidas do tipo que inquietavam o falecido senhor Bernier.
Creio que tudo na natureza de fato acontece mecanicamente e pode ser explicado por causas eficientes, mas também que, ao mesmo tempo, tudo acontece moralmente, por assim dizer, e pode ser explicado por causas finais. E estes dois reinos, o reino moral das mentes e almas e o reino mecânico dos corpos estão entrelaçados e em perfeita concordância por meio do Criador das coisas, aquele que é simultaneamente tanto a primeira causa eficiente como a última causa final.
Afirmo, então, que assim como não há vácuo entre os corpos, não há vácuo entre as almas – ou seja, há almas em toda parte e que, uma vez existentes, não podem perecer. Os corpos são multiplicidades; as almas, unidades. Porém, unidades que expressam ou representam em si mesmas uma multiplicidade. Cada alma é um espelho do mundo inteiro, a partir de seu próprio ponto de vista. Mas as mentes são almas de primeira ordem ou da mais alta classe que representam não apenas o mundo, mas também Deus no mundo. Assim, não só são elas imortais, mas também sempre retêm suas qualidades morais como cidadãs da república do universo, no qual nada falta, desde que é Deus quem o governa. Minha explicação da união entre alma e corpo encontra-se na edição nº 38 do Journal des Savants , de 12 de setembro de 1695.