O Pensamento não está em movimento (1676)

G.W. Leibniz
(Dezembro 1676)

O que quer que seja imediatamente percebido por nós e que não seja percebido como algo em movimento, não está em movimento.

O pensamento é imediatamente percebido por nós e não é percebido como algo em movimento.

Portanto, o pensamento não está em movimento.

Prova-se a premissa menor desta forma:

Percebe-se que o pensamento não está em movimento quer pelas sensações, quer por uma demonstração derivada daquilo que sentimos. Não é percebido pelas sensações, pois ninguém pode afirmar que tipo de movimento sente [quando percebe seu próprio pensamento]. Não é percebido por uma demonstração derivada daquilo que sentimos, pois a percepção da própria percepção é extremamente simples, embora seja grande a variedade daquilo que é percebido. Mas, a partir de algo que é extremamente simples, nada pode ser demonstrado; certamente, a própria percepção não implica um lugar, mesmo se o objeto da percepção implique. Portanto, tampouco o pensamento implica um lugar; nem implica um movimento, desde que um movimento implica um lugar.

Para que a demonstração seja exata, deve-se sustentar o seguinte: se algo não implica em si mesmo aquilo que é extremamente simples, tampouco implicará aquilo que contém esta coisa extremamente simples (aquilo que as partes não possuem, o todo não possuirá). A extensão é algo que é extremamente simples.1 Em todo ato de entendimento puro, isto é, desprovido de símbolos, percebe-se toda forma simples que a coisa implica. Portanto, se o pensamento que é desprovido de símbolos não percebe alguma forma simples em algo, aquela forma simples não se encontra naquela coisa.

Notas:

1. Leibniz assume que se o pensamento não implica extensão (que é algo “extremamente simples”) não implica movimento, do qual a extensão é uma parte.